segunda-feira, fevereiro 26, 2007

1º BIMESTRE: EGITO

- LOCALIZAÇÃO: Situada no Nordeste da África, no vale do Rio Nilo, na “terra de Cam”,[1] no Egito desenvolveu-se uma rica civilização cuja economia se baseava na servidão coletiva e na agricultura irrigada. O Egito era cercado de desertos e, durante muito tempo, esteve praticamente isolado das outras grandes civilizações de sua época. Toda a sociedade, a religião e a economia giravam em torno do Rio Nilo que com suas cheias regulares era a fonte de toda a vida do Egito, daí a frase do historiador grego Heródoto: “O Egito é uma dádiva [presente] do Nilo.”.

- SOCIEDADE: O topo da sociedade egípcia era ocupado pelo faraó, visto como um deus na terra. Abaixo deste estavam os sacerdotes cujo poder se baseava na extrema importância da religião para a sociedade. Em alguns momentos, os sacerdotes chegaram a rivalizar em poder com o próprio faraó. A seguir vinham os nomarcas (nobres). Os escribas também tinham grande importância dentro da sociedade egípcia, pois dominavam as formas complexas de escrita e cálculo, quanto mais cuidada a sua educação, mais altos eram os seus postos no governo. Menos importantes no início da história egípcia, os militares foram ganhando maior destaque principalmente no Novo Império. Em seguida vinham comerciantes, artesãos e todo tipo de trabalhadores especializados. O grupo social mais extenso, ocupando quase a base da pirâmide era o dos felás (camponeses), estes faziam praticamente toda a sorte de trabalho e garantiam o funcionamento do Estado Egípcio. Viviam sob o regime de servidão coletiva que os obrigava a entregar ao faraó e/ou aos grandes templos parte de sua produção, além, de terem a obrigação de trabalhar em obras públicas ou servir o exército caso fosse necessário. Por último vinham os escravos usados nas minas e em trabalhos domésticos principalmente. Por serem oriundos das guerras, na maioria dos casos, variaram muito em número no decorrer da história egípcia.

- DIVIDINDO A HISTÓRIA DO EGITO: Lembro vocês que toda periodização é artificialmente criada para facilitar o nosso estudo, são os historiadores que escolhem certos marcos para determinar o fim de uma época e o início de outra. Tendo isso em mente dividiremos a História do Egito Antigo em: Pré-Dinástica, Antigo Império, Médio Império e Novo Império. [1]

***PERÍODO PRÉ-DINÁSTICO: A agricultura começa a ser praticada às margens do Nilo por volta de 5 mil a.C., vários grupos se tornam sedentários e as aldeias começam a se formar. Com o passar do tempo, as aldeias começam a se unir em pequenos reinos chamados de nomos, cada um deles com um governante, o nomarca que era geralmente o chefe de um clã, isto é, grande família, cada uma delas com seu animal símbolo (totem) e seus deuses protetores. Esses vários pequenos reinos terminaram por se unir em dois estados principais o Baixo Egito e o Alto Egito. Por volta de 3.200 a.C., Menés, faraó (termo dado aos reis do Egito) do Alto Egito (Terra do Sul), irá unificar o território. O Egito se estabelece desde então como uma Monarquia Teocrática, sendo o faraó visto como um deus-vivo. Os primeiros faraós do Egito estavam associados à figura do deus Hórus, o falcão, filho do deus Osíris (cujo mito se liga à fertilidade do Nilo) e da deusa Ísis. Neste período os egípcios começaram a desenvolver sua escrita e seu calendário solar.

***ANTIGO IMPÉRIO: A capital do Egito era a cidade de Mênfis. Graças à centralização política foi possível mobilizar grandes contingentes de mão-de-obra, assim, foram feitas grandes obras de irrigação e construídas a pirâmides de Sacarah, em degraus, e as de Quéfren, Quéops e Miquerinos, em Gizé. A centralização política possibilitou também melhorias nas defesas contra povos nômades que atavam e pilhavam as aldeias. O Egito, no entanto, não era uma nação belicosa e sequer mantinha um exército permanente, cuidava de sua defesa e, no máximo, fazia expedições punitivas. Foram feitas incursões em busca de cobre no Sinai e outros produtos raros ou exóticos na Líbia e na Núbia. A partir de aproximadamente 2.300 a.C., o poder central começa a se enfraquecer enquanto os antigos nomarcas expandem seu poder local, além disso, o Egito convive também com o perigo das invasões. Esse estado de coisas conduz ao esfacelamento do Estado Egípcio.

***MÉDIO IMPÉRIO: Após quase dois séculos de descentralização política, os príncipes de Tebas conseguem reunificar o Egito, mudando a capital para sua cidade. Foi um período de expansão territorial rumo à Núbia, à Líbia e à Península do Sinai. Nesse período também os egípcios começam a manter intensas relações comerciais principalmente com os fenícios, sírios (que nada tem a ver com os assírios) e cretenses. Foram construídos grandes templos e túmulos nesse período, além da expansão das obras de irrigação, ampliando ainda mais as áreas agrícolas. Por volta de 1750 a.C., o Egito foi invadido pelos Hicsos. Chamados de reis pastores, os hiscsos pertenciam ao grupo dos semitas, usavam carros de guerra e cavalos, desconhecidos até então pelos egípcios, arcos compostos e armamento de bronze. Militarmente mais poderosos, conquistaram boa parte do território. Acredita-se que tenha sido por volta dessa época que os hebreus se estabeleceram no Egito.

***NOVO IMPÉRIO: Seu início está ligado ao movimento de resistência dos Príncipes de Tebas contra os invasores. A luta se prolongou por vários anos até que os hicsos foram expulsos e/ou escravizados. Povos que tinham se estabelecido sob a proteção dos hicsos no Egito, como os hebreus, também acabaram sofrendo retaliações. O faraó que marca o início desse período é Amósis I. [3] A partir desse momento, o exército passa a ser permanente, a nobreza se militariza, e o faraó passa a ser um líder guerreiro. O Egito se torna então uma potência expansionista e serão anexadas ou submetidas à tributação as regiões da Núbia, Palestina, Etiópia, Síria e Fenícia. Seus grandes adversários serão os hititas. Durante o Novo Império haverá a construção dos Templos de Luxor e Karnac. O comércio também será reavivado.
Durante esse período, mesmo com a ênfase militarista, houve a presença de mulheres no poder, como a faraó Hatshepsut[4] e a importante Rainha Nefertiti. Esta última era esposa do faraó Amenófeles IV que tentou implantar o monoteísmo no Egito, nesse processo o faraó, agora chamado de Akenaton, o faraó-herege, destituiu os sacerdotes impondo a adoração a um só deus, Aton, e transferiu a capital de Tebas para Amarna, promovendo também uma revolução nas artes como pintura e escultura. Nefertiti, que não era a esposa principal, governava ao seu lado, tendo sido representada ostentando símbolos de poder restritos ao faraó.
Em Amarna foram encontradas várias cartas que mostram aliados dos egípcios pedindo ajuda. O faraó parecia mais concentrado em sua reforma político-religiosa e os hititas e outros adversários avançaram sobre as áreas de influência egípcias. Morto Akenaton, os sacerdotes de Amon e a nobreza se apressaram em desfazer as obras do antigo faraó, restaurando o politeísmo, abandonando Amarna, retornando a capital para Tebas, e riscando o nome de Akenaton e Nefertiti dos anais do Egito. Em seu lugar passou a reinar seu filho, Tutancamon, que morreu bem jovem, provavelmente assassinado.[5] A instabilidade provocada pelo monoteísmo de Akenaton foi superada com dificuldade pelos faraós seguintes e a XVIIIª Dinastia terminou pouco tempo depois.
O poder dos faraós atingiu novo apogeu com a XIXª Dinastia, Ramsés I, Seti e, principalmente, Ramsés II, faraó expansionista, que submeteu vários povos, chegou ao equilíbrio militar com os hititas e construiu grandes obras arquitetônicas. Depois da morte de Ramsés, o Egito entra em um período de enfraquecimento, com poucos momentos de reação (Renascimento Saíta) sendo sucessivamente conquistado por vários povos (assírios, persas, gregos, romanos, etc) e perdendo a sua autonomia política.

- RELIGIÃO: Todo o cotidiano dos egípcios girava em torno da religião e da perspectiva da vida após morte. Para obtê-la era fundamental seguir as orientações do Livro dos Mortos e ser mumificado preservando o corpo para o retorno da alma. A religião dos egípcios era politeísta e antropozoomórfica, isto é, os deuses tinham forma de seres humanos e animais, tais como cabeça de falcão e corpo de homem. Durante o curto período de monoteísmo foi escrito o Hino ao Sol, poema que é considerado obra-prima da literatura egípcia antiga.

- ARTES E CIÊNCIA: Dentre as áreas em que os egípcios se destacaram podemos citar a arquitetura, escultura, medicina, matemática, astronomia e música.

- ESCRITA: A escrita egípcia mais conhecida é a hieroglífica, era usada em templos e monumentos, mas os egípcios também desenvolveram outras formas de escrita mais simplificada como a hierática, simplificada e usada em textos oficiais por escribas e sacerdotes, e a demótica, que quer dizer popular, para facilitar a comunicação. Os especialistas em escrita, os escribas, eram tremendamente valorizados e tinham espaço garantido na sociedade. A escrita egípcia começou a ser decifrada no século XIX, graças à descoberta da chamada Pedra de Rosetta.

- CONDIÇÃO FEMININA: Dentre todos os povos da Antigüidade Oriental, foi no Egito que as mulheres obtiveram uma situação mais eqüitativa em relação aos homens. Podiam governar, gerir seus bens, serem sacerdotisas, manter a guarda dos filhos em caso de divórcio e se ocupar de praticamente todas as profissões. Foram camponesas, escribas, sacerdotisas, médicas, rainhas-faraó, governadoras de província e até líderes militares.

[1] Outro nome do Egito. A região foi ocupada no terceiro milênio antes de Cristo pelos chamados povos camitas, ou kemitas, ou ainda hamitas. Tendo pele morena ou escura, eles trouxeram sua língua e cultura para a região. Idiomas do tronco camita ainda são falados na África atual.

[2] Outros livros incluem períodos posteriores como o chamado Renascimento Saíta, o Baixo Império e o Período Ptolomaico.

[3] Ahotep, mãe de Amósis e que tinha perdido o marido e o filho mais velho, governou o Reino do Sul e liderou a resistência até que ele crescesse, assumisse os exércitos e atacasse o Norte. Ela morreu com mais de 80 anos e foi honrada por seu filho com um belíssimo túmulo e insígnias de chefe militar. É o único caso conhecido de mulher que tenha recebido tal honra.

[4] Hatshepsut foi a quinta governante da XVIIIª dinastia e era filha de Tutmés I, general que se tornará faraó. Com a morte de seu pai foi casada com seu irmão Tutmés II, filho de uma esposa secundária. Morto Tutmés II assumiu o trono como regente de seu enteado, Tutmés III, que era filho de seu irmão-marido com uma esposa secundária. Posteriormente Hatshepsut usurpou o trono sendo um dos mais importantes faraós do período.

[5] Sua jovem esposa-irmã, Ankesenamon, chegou mesmo a pedir ajuda aos grandes rivais do Egito, os hititas, pois não desejava casar com o assassino do marido. A carta foi encontrada na capital do reino Hitita, Hattusas, mas o príncipe enviado para casar com a viúva do faraó nunca chegou ao seu destino, sendo assassinado.

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