sexta-feira, março 16, 2007

1º BIMESTRE: HEBREUS

§ Quando falamos da Palestina em nosso estudo, falamos dos hebreus, povo que deixou um imenso legado religioso e cultural para nossa civilização. Seu papel na Antigüidade, se pensarmos em feitos militares, expansão territorial, é nulo, mas sua influência sobre nossa Civilização Ocidental ou mesmo chamada por alguns de Judaico-Cristão é inegável. Os hebreus, depois os judeus, eram os únicos monoteístas dentre os seus contemporâneos, isso os diferenciava e os tornava suspeitos, em especial por causa de seus costumes e regras que marcavam todos os aspectos de sua vida social.

§ Muito do que sabemos sobre os hebreus depende das próprias fontes escritas por este povo. O Velho Testamento ou Tanach [1] nos dá informação sobre a origem, as migrações, as tentativas de ocupação da Palestina e muitos outros detalhes, no entanto, é difícil separar o que é mito do que é História, porque outros povos só irão falar dos hebreus muito tardiamente, em especial, depois do Cisma. Ao estudarmos a História dos hebreus, temos que ter isso em mente.

§ LOCALIZAÇÃO: Situava-se entre o Rio Jordão e o Mar Mediterrâneo, cercada pela Síria, Fenícia e Deserto da Arábia. As áreas banhadas pelo Rio Jordão eram férteis e propícias à agricultura (trigo, cevada, tâmaras, azeitonas e figos), mas o resto do território era desértico ou semidesértico, com um solo pedregoso e relevo montanhoso (nessas regiões se praticava o pastoreio).

§ O POVO: A região era habitada desde aproximadamente 3.000 a.C. pelos cananeus; posteriormente os filisteus (indo-europeus) também se estabeleceram no território. Os hebreus, “povo do outro lado”, eram pastores seminômades, originários provavelmente do Deserto da Arábia, se estabeleceram na cidade de Ur na Mesopotâmia até por volta de 2.000 a.C. quando migram em direção à Palestina, liderados por seu líder mítico Abraão. Demorarão muito tempo ainda para se sedentarizar.

§ PERIODIZAÇÃO:

Era dos Patriarcas: Os hebreus se organizavam em torno de patriarcas, isto é, líderes de famílias estendidas, que reuniam em suas mãos funções diversas como a de chefe militar, sacerdote e líder político. Os mais importantes patriarcas foram Abraão (que levou o seu povo até a Palestina), Isaac e Jacó (quando se formam as 12 tribos). Nesse período ainda mantinham suas características seminômades. Acredita-se que por volta de 1.700 a.C. os hebreus se transferiram para o Egito fugindo de uma grande seca. Teriam se estabelecido no Delta do Nilo sob a proteção dos hicsos (reis pastores), povo que havia conquistado o território, recebendo uma série de benefícios. Com o fim do domínio hicso, foram transformados em escravos. Por volta do ano 1.250 a.C., retornaram para a Palestina sob a liderança de Moisés, esse acontecimento ficou conhecido como Êxodo. Durante a migração, os hebreus teriam recebido de seu Deus (Iavé/Jeová) a sua base jurídica, conhecida como 10 Mandamentos. É durante esse período que começa a se consolidar o monoteísmo.

Era dos Juízes: Período marcado pela fragmentação política. Os hebreus se dividem em tribos, que mesmo partilhando a mesma cultura e religião, só se unem, às vezes parcialmente, para enfrentarem um inimigo comum. Nestes momentos de crise e necessidade surgem líderes carismáticos, investidos pelo poder divino, os chamados Juízes. Poderiam ser líderes políticos, militares ou religiosos, separadamente ou exercer todos os poderes. De qualquer forma, tratava-se de um teocracia. Alguns juízes importantes foram: Josué (sucessor de Moisés), Gedeão, Jefté, Débora, Sansão e Samuel (último dos juízes). Com o retorno a Palestina, os hebreus encontram outros povos na região, o mais forte deles, os filisteus que se impõem pela superioridade militar. Empurrados para o Norte do território, os hebreus terminam por formar uma confederação, unificada em torno de um Rei, para tentar vencer os inimigos.

Era dos Reis: Esse período se estende de cerca de 1010 a.C. até a destruição de Jerusalém por Nabucodonosor, rei dos caldeus, em 587 a.C. Podemos dividir a Era dos Reis em dois períodos, o primeiro do Reino Unido, com Saul (1010-1006 a.C.), Davi (1006-966 a.C.) e Salomão (966-926 a.C.), e o segundo o do Cisma, com a divisão em dois reinos, o Reino de Judá e o Reino de Israel.

- Os primeiros monarcas, Saul e Davi (que criou um exército permanente), tiveram governos turbulentos onde a guerra, contra os filisteus e outros inimigos, estava na ordem do dia. Foi o período de consolidação do território. Quando Salomão, filho de Davi, sobe ao trono, fora os problemas sucessórios (*ele lutou contra seus irmãos pelo poder*), encontra um reino pacificado e pode investir seus esforços na expansão do comércio, no estabelecimento de boas relações com os reinos vizinhos, na construção de palácios e do grande templo de Jerusalém. O esforço embelezador de Salomão, entretanto, gerou o aumento de impostos que passaram a pesar sobre a população mais pobres, além disso, o monarca se utilizou largamente do trabalho compulsório (tipo de trabalho que não implica em pagamento, pode ser a servidão e/ou a escravidão) das populações estrangeiras que habitavam o território. Salomão também despertou a oposição dos sacerdotes que não viam com bons olhos política religiosa liberal. Só explicando: casamentos eram alianças políticas e Salomão parece ter firmado muitos contratos, negócios eram selados com o sacrifício aos deuses do outro povo em sinal de amizade, o que era considerado “civilizado e cortês” por todos os vizinhos era visto como intolerável em um regime monoteísta.

- Com o fim do reinado de Salomão, seu filho Roboão não conseguirá manter o reino unificado e ocorre o Cisma (separação/ruptura), dez tribos se separam e formam o Reino de Israel(Norte), com capital em Samaria, e duas permanecem fiéis ao sucessor de Salomão formando o Reino de Judá(Sul) com capital em Jerusalém. Divididos, os hebreus se tornaram presas ainda mais fáceis para as nações expansionistas da época. O Reino de Israel desaparece com a invasão da Assíria, governada por Sargão II, em 721 a.C., o território foi devastado, seus habitantes dispersos ou escravizados e outras populações foram estabelecidas na região. O Reino de Judá resiste mais um pouco, pagando tributo aos assírios, mas termina se revoltando contra os novos senhores, os babilônios confiando na proteção egípcia, termina sendo destruído por Nabucodonosor, rei do II Império Babilônico em 587 a.C., sendo parte da população levada cativa para a Babilônia.

Era Do Domínio Estrangeiro: Quando os persas conquistaram a Babilônia, em 539 a.C., os judeus recebem a permissão para retornar à Palestina, nesse período muitos judeus já haviam se dispersado pelo mundo, alguns preferiram ficar na Babilônia. Com a queda dos persas, são anexados ao Império Macedônico, em 333 a.C., com o fim deste tentam a independência, mas já em 63 a.C. o território se torna parte do Império Romano. No ano de 70 d.C., os judeus se revoltam e Jerusalém é destruída pelos romanos, e inicia-se a Diáspora, isto é, a dispersão dos judeus pelo mundo. Em 131 d.C., nova revolta faz com que boa parte dos judeus seja expulsa da Palestina pelos romanos. Outros dominadores foram ocupando a região no decorrer dos séculos, sendo que os judeus mantiveram sua identidade através de sua cultura e religião. Somente no ano de 1947, como resultado do Movimento Sionista e da II Guerra Mundial, a ONU começa a planejar o estabelecimento de um Estado Judeu que dividisse a região com um Estado Palestino, com Jerusalém, cidade sagrada tanto para judeus quanto para cristãos e muçulmanos, divididas entre os dois Estados. O Estado de Israel se consolida em 1948, enquanto o Estado Palestino ainda não saiu do papel, fazendo com que a tensão na região seja permanente.

§ SOCIEDADE E ECONOMIA: (ver p. 61 do livro)

§ CULTURA E RELIGIÃO: Por certo as maiores contribuições dos hebreus/judeus se deram nesses campos. A base para se conhecer a história antiga dos judeus até hoje é o Velho Testamento (Primeira parte da Bíblia Cristã), sendo que os judeus chamam os 5 primeiros livros (Pentateuco para os cristãos) de Torá. É na Torá que se encontram as diretrizes morais, jurídicas (Os Dez Mandamentos e outras leis), de organização do culto e alimentares do povo judeu. Para explicar a lei foram reunidos textos de vários rabinos (sacerdotes) em outra obra, chamada Talmude, e que é utilizada até hoje. A visão religiosa judaica influenciou fortemente o Cristianismo, que abraçou os livros do Velho Testamento como seus textos sagrados, através do Monoteísmo, da noção de Juízo Final, da vinda do Messias. Também o Islamismo deve muito ao Judaísmo, seja na noção de Monoteísmo, seja por valorizar o Velho Testamento, afinal, Abraão (Ibrahim) é considerado também pai dos árabes e elemento que estabeleceu as primeiras bases do culto a Alá.

[1] Tanach é um acróstico de Torah (Pentateuco – 5 primeiros livros), Neviim (Profetas) e Ketuvim (Escritos – os demais livros) do Velho Testamento cristão.

segunda-feira, março 12, 2007

GABARITO: PERGUNTAS DE UM TRABALHADOR QUE LÊ


Leia atentamente o texto abaixo e responda as questões: 

 PERGUNTAS DE UM TRABALHADOR QUE LÊ 
Bertold Brecht (1898-1956) 

Quem construiu a Tebas de sete portas? 
Nos livros estão nomes de reis. Arrastaram eles os blocos de pedra? 
E a Babilônia, várias vezes destruída, Quem a reconstruiu tantas vezes? 
Em que casas da Lima dourada moravam os construtores? 
Para onde foram os pedreiros, na noite em que a Muralha da China ficou pronta? 
A grande Roma esta cheia de arcos do triunfo.
Quem os ergueu? 
Sobre quem triunfaram os Césares? 
A decantada Bizâncio tinha somente palácios para os seus habitantes? 
Mesmo na lendária Atlântida, os que se afogavam gritaram por seus escravos na noite em que o mar a tragou. 
O jovem Alexandre conquistou a Índia. Sozinho? 
César bateu os gauleses. 
Não levava sequer um cozinheiro? 
Filipe da Espanha chorou, quando sua Armada naufragou.
Ninguém mais chorou? 
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos. 
Quem venceu além dele?
Cada pagina uma vitória. 
Quem cozinhava o banquete? 
A cada dez anos um grande Homem. 
Quem pagava a conta? 
 Tantas histórias. 
Tantas questões. 

[As respostas são pessoais, mas não podem fugir muito do que está proposto aqui. Nenhuma das questões aqui deveria ser respondida em uma linha, é preciso argumentar, discutir e desenvolver as suas ideias.] 

1) Que tipo de História o autor do texto está criticando? 
R.: O autor critica a História que somente valoriza somente os feitos dos “grandes homens” sem se preocupar com todos os outros envolvidos e que ajudaram nas guerras, nas grandes construções, nas descobertas científicas, enfim, que estavam também fazendo História. Por exemplo, Brasília não é obra de JK, mas também de milhares de homens e mulheres, candangos, que vieram desbravar a região quando não havia nada mais do que poeira vermelha e construir a cidade em que nós vivemos. 

2) Usando o texto como base, discuta a afirmação a seguir “Alguns fazem a História, a maioria somente passa pela História”. 
R.: Seria necessário explicar que esta afirmativa é preconceituosa, pois parte do princípio que não fazemos História com nossas ações do dia-a-dia e que como ciência humana e social dela participamos todos nós, não somente generais, cientistas ou presidentes.  [Se você concorda com a frase, é porque não compreendeu a primeira parte de nossa matéria. Revise e tire as dúvidas.] 

3) É possível construir vários tipos de História sobre um mesmo evento ou fenômeno? Dê a sua opinião. 
R.: Uma História pode sempre ser vista por vários pontos de vista, depende sempre das fontes de que dispõe o historiador ou historiadora, da seleção que é feita, do enfoque que se deseja dar (político, social, cultural, econômico etc), das perguntas que o pesquisador ou pesquisadora fará às suas fontes. A(s) História(s) produzida(s) no século XIX sobre a Guerra do Paraguai, por exemplo, pode ser muito diferente da(s) História(s) produzida(s) hoje, porque as perguntas são outras, as inquietações são diferentes, os recortes mudaram.

P.S.: A ilustração do post é o quadro Operários (1933) de Tarsila do Amaral.