sábado, setembro 11, 2010

Hypatia de Alexandria: Inimiga Pública



Desde que li a primeira vez sobre Hypatia de Alexandria fui tomada de grande fascinação por ela. Daria um ótimo filme... Daí, o anúncio do filme Ágora, ainda inédito no Brasil, me fez ficar atenta a tudo que aparecia sobre ela. Pois bem, eu já assisti o filme, não acredito que ele será lançado em cinema por aqui, e pretendo fazer uma resenha. Mas comprei o nº499 da revista espanhola Historia Y Vida e havia um perfil curto sobre Hypatia. A revista chega com meses de atraso no Brasil, então, deve ter sido da época do lançamento na Espanha. Achei que valia a pena traduzir e colocar no blog. Pretendo passar para os meus alunos e alunas da faculdade na semana que vem. Segue o texto traduzido:

Inimiga Pública

Hipatia, resgatada pelo cinema por Amenábar, pecou por ser pouco convencional em tempos ultraortodoxos

Nicolás Brihuega, Historiador

Tanto por sua formação intelectual quanto por sua trágica morte, Hypatia de Alexandria é provavelmente a mais célebre de todas as mulheres que dedicaram a sua vida à ciência na Antigüidade. Dela possuímos dados suficientes para traçar uma biografia fidedigna. Ainda se desconhece a data exata de seu nascimento (são possíveis os anos de 350, 370 ou 375 d.C.), a de sua morte não representa dúvidas: foi assassinada no ano de 415. A Alexandria de sua época era uma cidade cosmopolita como nenhuma outra, um formigueiro de religiões competia para ganhar adeptos. De todas elas, a cristã, como religião oficial do Império Romano, perseguia o objetivo de eliminar os outros cultos. O paganismo, junto com as heresias que se afastavam do credo oficial, era o grande inimigo a bater.

Com este pano de fundo tão desfavorável para os cultos tradicionais, Hypatia exerceu o cargo de diretora da Biblioteca, instituição pagã por excelência. E o fez graças a sua formação cultural modelar. Seu pai, o filósofo e matemático Téon, se preocupou, contra o que era o padrão daqueles tempos, que sua educação fosse de primeira linha. Baseou sua preparação em um profundo conhecimento da filosofia, da astronomia e das matemáticas.

O modo de vida realmente original de uma mulher como Hypatia não passava despercebido a ninguém, provocando muita suspeita, em especial entre as autoridades da Igreja. Hypatia não era uma pessoa a quem interessavam os bens materiais. Se vestia humildemente, se alimentava de forma espartana e se cobria com o tribón, o manto tradicional dos filósofos. Sua fama ultrapassava fronteiras. Atenas, a antiga capital da filosofia, lhe concedeu a coroa de louros, uma distinção honorífica que era entregue aos intelectuais de maior prestígio e aos seus cidadãos prediletos.

No ano de 390, o bispo Teófilo (inimigo declarado do paganismo) ordenou a destruição dos templos gregos, inclusive a maravilhosa Biblioteca, com todo o seu conteúdo de livros “ímpios”. Se havia alguém que despertava o ódio doentio do bispo, esta era Hypatia. Ninguém como ela conhecia e explicava a Aritmética de Diofanto, um tratado sobre equações de primeiro e segundo grau. Seus conhecimentos de astronomia foram fundamentais para a invenção do astrolábio plano, empregado para medir a posição das estrelas, os objetos celestes e o sol, além de calcular o tempo e o signo ascendente do zodíaco.

O sucessor de Teófilo no episcopado alexandrino não seria mais tolerante. Se tratava de seu sobrinho Cirilo. O novo bispo desejava que a cidade fosse plenamente cristã e não teve dúvidas em se rodear de uma brutal guarda pretoriana, os Parabolani, jovens fanáticos que, sob as ordens de Cirilo, organizavam razias contra os adversários políticos ou religiosos.

Convertida em Bruxa

Hypatia era, além de uma intelectual perigosa, amiga pessoal do governador alexandrino Orestes, entre outros notáveis, tanto pagãos quanto cristãos. O bispo não só arremeteu contra ela por seu pecado de não adorar o Cristo, como também se encarregou de propagar o rumor de que praticava magia negra. Incitou seus fanáticos seguidores para, enquanto deixava claro quem ostentava o poder na cidade, eliminar a conselheira e confidente de Orestes.

João, bispo de Nikiu, narra em sua Crônica como aconteceu o assassinato da filósofa: “Uma multidão de crentes em Deus apareceu sob a direção do magistrado Pedro (um ajudante de Cirilo), e foram buscar a mulher pagam que tinha dominado as pessoas da cidade e o prefeito com sues encantamentos. Quando descobriram o lugar em que estava, a seguiram e a encontraram em uma cadeira, e tomando posse dela a arrastaram até a igreja de Cesarión... Rasgaram suas roupas e a arrastaram pelas ruas até que morreu. Logo a levaram para o Cenarión e queimaram o seu corpo. As pessoas rodearam ao patriarca Cirilo e o chamaram de “o novo Teófilo”, porque havia destruído os últimos restos de idolatria da cidade”. Arrastada violentamente de sua casa pela turba de fanáticos, ao que parece arrancaram sua pela com pedaços de cerâmica (ostrokoi).

A morte de Hypatia não só significou a desaparecimento violento de uma das mentes mais privilegiadas da Antigüidade. Sua eliminação foi um passo a mais na lenta agonia da filosofia helenística. Teríamos que esperar até o Iluminismo para que se produzisse um renascimento do interesse por Hypatia, graças a historiadores como Edward Gibbon. Em sua luta contra a religião e em sua incondicional defesa do livre pensamento, os homens das luzes converteram Hypatia em uma precursora de tudo o que defendiam.

Hollywood Bate as Aulas de História



Não acho que a pesquisa seja surpresa para a maioria dos professores de História, só acho que 108 alunos é muito pouco para afirmar categoricamente algo do gênero. Também seria interessante fazer uma pesquisa assim em vários países. Será que os filmes são mais fortes como referência somente nos EUA? Agora fiquei curiosa... ^_^ Segue a materiazinha traduzida da revista espanhola Historia Y Vida (nº499/p.13)

Hollywood Bate as Aulas de História

Não importa se é correto ou não o que se vê nos filmes históricos, os estudantes registram como verdadeiro mesmo quando tinham lido em seus livros escolares ou quando tenham escutado de seus professores o contrário. Esse é o resultado de uma pesquisa realizada na Universidade de Washington em St. Louis. Em seu experimento com 108 alunos, quando a informação dos filmes contradizia a dos livros, quase a metade dos jovens recordava unicamente os dados incorretos das películas. Em algumas ocasiões, inclusive, atribuíam aos livros as informações que vinham dos filmes.

P.S.: A matéria original, em inglês, pode ser encontrada aqui: Students Recall More Hollywood than History. Talvez, eu traduza depois. Aqui tem uma matéria de um site brasileiro sobre a pesquisa, também.

quinta-feira, setembro 09, 2010

Papiro egípcio achado em antigo pântano irlandês



Não conhecia o Saltério de Faddan More e achei a descoberta fenomenal. Por conta disso, decidi traduzir o artigo do do site Physorg. espero que realmente se consiga provar o cristianismo egipcio, talvez via Península Ibérica, influenciou a Igreja Irlandesa. Segue a tradução.



Papiro egípcio achado em antigo pântano irlandês


6 de setembro de 2010

Cientistas irlandeses encontraram fragmentos de um papiro egípcio dentro da capa de couro de um livro de salmos retirado de um terreno pantanoso, disse o Museu Nacional Irlandês na segunda.

O papiro dentro da capa de couro em estilo egípcio que cobria um manuscrito de 1200 anos, “potencialmente representa a primeira conexão tangível entre a Igreja Irlandesa primitiva e a Igreja Cóptica do Oriente Médio”, diz o Museu. “É uma descoberta que levanta muitas questões e tem perturbado algumas das teorias aceitas sobre a História do Cristianismo primitivo na Irlanda.”

Raghnall O Floinn, reponsável pelas coleções do Museu, disse que o manuscrito, agora conhecido como “Saltério de "Faddan More”, e uma das descobertas arqueológicas mais importantes da Irlanda. Ele foi desenterrado quatro anos atrás por um homem que usava uma escavadeira mecânica para extrair turfa perto de Birr no Condado de Tipperary, mas a análise só agora foi completada.

O Floinn contou para a AFP que o pergaminho manuscrito envolvido pela capa de couro data do século VIII, mas não se sabe quando e porque ele terminou dentro do pântano onde foi preservado pelos elementos químicos presentes na turfa.

“Parece que a capa de couro do manuscrito vindo do Egito. A questão é se o papiro veio junto com a capa ou se ele foi acrescentado depois. É possível que as imperfeições na capa possam nos permitir confirmar que a pele é egípcia. Nós estamos tentando rastrear se há alguém que pode nos dizer se isso é possível. Este é o próximo passo.”

V disse que o saltério é do tamanho de um jornal tablóide e cerca de 15% das páginas dos salmos, que estão escritos em latim, sobreviveram. Os especialistas acreditam que o manuscrito dos salmos foi produzido em um mosteiro irlandês e foi colocado posteriormente na capa.

“A capa pode ter tido vários usos antes de terminar basicamente como um envoltório para o manuscrito no pântano,” disse O Floinn. “Ela pode ter viajado de uma biblioteca em algum lugar no Egito para a Terra Santa ou para Constantinopla ou Roma e então para a Irlanda.” O Museu Nacional em Dublin planeja colocar o saltério em exposição pública no início do ano que vem.

(c) 2010 AFP