sábado, junho 14, 2008

2º BIMESTRE: Henrique VIII e a Igreja Anglicana

Em 1521, o rei inglês Henrique VIII publicou um livro em que atacava as idéias de Lutero, recebendo do papa, por isso, o título de Defensor Fidei. Mas as relações da Coroa com a Igreja se complicaram a partir de 1527, quando Henrique VIII começou a dar os primeiros passos no sentido de conseguir a anulação de seu casamento com Catarina de Aragão. Catarina era princesa espanhola, filha de Fernão e Isabel, os reis católicos. Tinha vindo à Inglaterra em 1501, e havia se casado com o irmão mais velho de Henrique, que deveria ser o futuro rei. Artur e Catarina tinham 16 anos de idade. Artur morreu poucos meses depois, e seu pai, o rei Henrique VII, temendo que Catarina voltasse à Espanha levando de volta os 200 000 ducados que tinha trazido como dote, casou-a com o filho mais novo, Henrique, que seria depois o rei Henrique VIII. Henrique tinha 12 anos, e Catarina 18.

Inúmeras vezes a rainha engravidou, mas deu à luz natimortos ou crianças que morreram nas primeiras semanas de vida. A única exceção foi a filha Maria, nascida em 1516, que se tornaria a futura rainha Maria Tudor. Desejando um herdei¬ro masculino para o trono, Henrique VIII pediu ao papa a anulação de seu casamento com Catarina. O poder papal concedia tais separações e já havia precedentes. Mas o papa Clemente VII, fortemente pressionado pelo imperador Carlos V (Espanha e Sacro Império), iniciou uma série de manobras adiando ao máximo a decisão.

Ao mesmo tempo, as críticas à Igreja cresciam cada vez mais: chamavam-se os padres de "classe vadia", e os comerciantes pediam ao rei que diminuísse o poder e as rendas da Igreja.

Em novembro de 1529, reuniu-se uma nova seção do Parlamento inglês. Os grupos mais influentes (nobres na Câmara Alta e mercadores na Câmara dos Comuns) concorda-vam com dois pontos: redução da riqueza e do poder eclesiásticos e apoio ao rei em sua campanha em prol de um herdeiro masculino ao trono. Foram aprovadas algumas leis que impediam que o clero tivesse direito de cobrar taxas obituárias e taxas sobre a homologação de testamentos. Em 1531, Henrique VIII exigiu ser reconhecido pela Igreja como Protetor e único chefe supremo da Igreja e do clero da Inglaterra. Com isso, cessaria o voto de obediência da Igreja inglesa ao papa. Após muitas discussões, a Igreja concedeu ao rei o título de Protetor e único chefe supremo da Igreja e do clero da Inglaterra, enquanto permitir a lei de Cristo. Em 1532, reuniu-se um sínodo dos bispos ingleses, e ficou claro que a maioria deles estava ao lado do rei e contra o papa:
Possa ser do agrado de Vossa Graça mandar cessar essas injustas exigências que nos faz a Igreja de Roma. [...] E, no caso que o Papa queira instaurar um processo contra este reino para obter as anatas, possa agradar a Vossa Majestade ordenar no presente parlamento que se retire da Igreja de Roma a obediência de Vossa Majestade e do Povo. (Carta do sínodo dos bispos ingleses ao rei Henrique VIII, 1532. Apud Will Durant, op. cit., p. 460.)
Com essa garantia dada pelos bispos e cardeais ingleses, em 15 de janeiro de 1533 Henrique VIII casou-se com Ana Bolena, que já estava grávida de quatro meses. A cúpula da Igreja da Inglaterra reconheceu o divórcio do rei com Catarina de Aragão, sendo coroada rainha da Inglaterra Ana Bolena, em maio de 1533. Emjulho do mesmo ano, o papa Clemente VII declarou nulo o novo casamento, ilegítima a sua descendência e excomungou o rei. Em novembro de 1534, o Parlamento votou os Estatutos de Supremacia, nos quais se reafirmava a soberania do rei sobre a Igreja e o Estado na Inglaterra. Batizava-se a nova Igreja nacional com o nome de Ecclesia Anglicana (Igreja Anglicana) e davam-se ao rei todos os poderes sobre moral, organizações, credo e reforma eclesiástica, pode¬res que anteriormente cabiam à Igreja:
O Rei é o chefe supremo da Igreja da Inglaterra [...]. Nesta qualidade, o Rei tem todo poder de examinar, reprimir, corrigir tais erros, heresias, abusos, ofensas e irregularidades que sejam ou possam ser reformados legalmente por autoridade espiritual, a fim de conservar a paz, a unidade e a tranquilidade do Reino, não obstante todos os usos, costumes e leis estrangeiras, toda autoridade estrangeira [...]. (Ato de Supremacia, 1534. Apud Rubim S. L. Aquino, História das sociedades modernas às sociedades atuais, p.85.)
As Perseguições eligiosas
Em julho de 1535, as perseguições movidas por Henrique VIII contra os religiosos que não aceitavam a nova situação atingiram Thomas More, antigo conselheiro do rei e autor do livro Utopia, que perdeu a cabeça no cadafalso.

Da mesma forma que na Alemanha, na Inglaterra a Refor¬ma havia nascido nas cidades e encontrou resistências para se implantar nos campos, especialmente a partir do momento em que a Coroa começou a extinguir os mosteiros e entregá-los nas mãos de nobres e burgueses. Os monges dos mosteiros aliaram-se aos camponeses e, entre 1535 e 1538, inúmeras regiões da Inglaterra e da Escócia foram agitadas por rebeliões camponesas, duramente reprimidas pelo rei:
Nossa vontade é que, antes de recolherdes nossas bandeiras novamente, façais uma execução tão terrível de um bom número de habitantes de cada cidade, vila e aldeia que participaram dessa ofensa, que elas possam ser um espetáculo horroroso para todos os demais que, daqui em diante, quise-rem agir de modo semelhante [...] Como todas essas revoltas surgiram por solicitação e traiçoeiras conspirações de monges e cónegos daquelas regiões, desejamos que vós, nesses lugares que conspiraram e opuseram resistência, mandeis, sem piedade e formalidades, deter sem mais demora ou cerimônia todos os monges e cónegos que, de qualquer modo, forem culpados. (Ordens de Henrique VIII aos comandantes militares, 1537. Apud Will Durant, op. cit., p. 447.)
Por volta de 1540, todos os mosteiros e propriedades rurais da Igreja haviam passado para as mãos do rei, que os deu de presente a inúmeras famflias da aristocracia e da burguesia. Assim sendo, esses grupos se tornaram defensores ferrenhos da nova religião e inimigos da volta do catolicismo e da obediência ao papa.

A Igreja Anglicana conservou a estrutura e os dogmas da Igreja Católica, com pequenas alterações. Não foi feita uma reforma profunda nos costumes do clero, que passou a ser visto pela população como um aliado da Coroa, o que facilitou o surgimento e a disseminação de uma série de religiões puritanas e protestantes, normalmente perseguidas pelos reis ingleses seguintes.

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