terça-feira, maio 21, 2019

Texto Complementar: As Universidades Medievais


Os séculos XI, XII, XIII e XIV foram de grande atividade intelectual na Europa Medieval, associado ao processo que chamamos de Renascimento Urbano e Comercial.  Dentro dos mosteiros e nas escolas das catedrais, houve o desenvolvimento do pensamento teológico e jurídico.  

No século XIII, as universidades, uma das grandes invenções da Idade Média, se tornaram importantes centros que atraíam jovens de toda a Europa.  Antes, quem desejasse estudar, precisava não somente do tempo e da oportunidade, mas dos meios para empreender viagens em busca de mestres dispersos em mosteiros, ou escolas catedralícias.   Com a universidade, os mestres estavam reunidos todos no mesmo lugar.  As três universidades mais antigas da Europa são Bolonha, Paris e Oxford.   

Estudantes medievais.
Entre 1200 e 1400 foram fundadas, na Europa, 52 universidades, e 29 delas foram erguidas pelo papado.  A origem das universidades era diversa.  Umas, como Paris, surgiram de escolas das catedrais pré-existentes.  Outras, foram fundadas por reis, ou pela igreja.  Havia, também, as universidades que surgiram de divisões internas e conflitos.  A universidade de Cambridge nasceu de um cisma da universidade de Oxford, em 1209.

O ensino é apanágio da Igreja, mesmo universidades fundadas por reis e imperadores, precisam da permissão da autoridade religiosa, a licentia docendi (permissão para ensinar).  Esta exigência foi estabelecida no Terceiro Concílio de Latrão, em 1179.  Era uma forma da Igreja continuar tendo o controle sobre a educação, mesmo quando uma universidade era fundada por um rei, por exemplo.

O professor e seus alunos.
A palavra “universitas”, que deu origem ao termo universidade, poderia significar “universalidade, conjunto, totalidade, companhia, corpo, comunidade, colégio, associação, corporação”. A Universidade Medieval era, portanto, uma corporação de ofício especial nas quais os doutores eram os mestres e os estudantes, os aprendizes.  Outro nome da universidade, a universitas, era studium generale, porque recebia alunos de toda a Europa, não somente daquela cidade, região, reino.  Os estudantes muitas vezes recebiam privilégios, porque traziam dinheiro para a cidade.

Havia quatro cursos universitários: Artes/Filosofia (inferior), Direito, Medicina e Teologia (superiores). O bacharelado em Artes durava em média dois anos.  E as disciplinas neste primeiro curso eram divididas em trivium e quadrivium. As disciplinas do trivium, ou ciência da palavra, dividiam-se em gramática latina, retórica e dialética. Já o quadrivium, ou ciência das coisas, dividia-se em aritmética, geometria, astronomia e música.  Alguns alunos chegavam na universidade aos 11, 12 anos.  Toda a educação era feita em latim. 

Ilustração do século XIII.  Observem o comportamento dos alunos,
alguns podem ser vistos em salas de aula em nossos dias.
Depois de obtido o mestrado em Artes, o que implicava em seis anos de estudo, o aluno poderia lecionar e ir embora da universidade.  Se desejasse ser médico, deveria estudar mais seis anos para conseguir o doutorado, o mesmo valendo para o curso de Direito. Já o doutorado em Teologia exigia entre quinze e dezesseis anos de estudos no total.  

Os universitários pagavam as aulas ministradas pelos mestres. Muitos estudantes eram sustentados por suas famílias. Aqueles que não tinham como se sustentar no meio acadêmico, recorriam à população citadina a qual necessitava dos serviços contábeis realizados pelos alunos ou então faziam doações a título de pagamento de penitências, doando àqueles que possuíam o dom divino do saber. Existiam ainda aqueles alunos que trabalhavam como copistas para os livreiros locais, colegas estudantes mais ricos, ou aqueles que recebiam bolsas de estudos dadas pela igreja, pelos reis, ou outros nobres.

Franciscanos e dominicanos causaram tensão na universidade.
Com a criação das ordens mendicantes no século XIII, franciscanos e dominicanos passaram a lecionar nas universidades.  Tomás de Aquino, um dos grandes nomes da filosofia medieval e que foi um dos grandes responsáveis pela cristianização de Aristóteles, era dominicano.  A presença dos mendicantes gerava tensão.  Eles não faziam greve e praticavam proselitismo, isto é, estavam preocupados em conseguir novos candidatos às suas ordens religiosas.  Os mendicantes foram os responsáveis por criar os primeiros colégios, onde estudantes pobres podiam morar e recebiam alimentação, mas deveriam se submeter a regras rígidas de comportamento e usar uniforme.

Foi através da Espanha muçulmana que Aristóteles chegou às universidades no século XIII, criando tensão com o pensamento neoplatônico dominante.  A leitura de Aristóteles através do árabe Averróis também defendia a independência entre a filosofia e a teologia.  Este pensamento, e também o estudo do Direito Romano independente do Direito Canônico durante algum tempo, incomodou algumas lideranças religiosa.  A filosofia de Aristóteles foi condenada várias vezes pela Santa Sé (1210, 1215, 1228) seu ensino proibido em Paris.  Com o tempo as condenações foram caindo em desuso e sendo esquecidas.

Trotula de Salerno, a mais importante médica medieval.
A presença das mulheres nas universidades é controversa. Há legislação de Igreja proibindo que as mulheres pudessem se matricular nos cursos, porque todos os formados eram considerados clérigos, podendo exercer algumas funções eclesiásticas.  No entanto, existem evidências de várias mulheres que se formaram em medicina, curso de menor prestígio, especialmente, na universidade de Salerno (Itália), e até em Direito.  Há registro, também, de mulheres que se disfarçaram de homens para estudarem na universidade.  De qualquer forma, a maioria das mulheres educadas estudavam em casa, ou nos mosteiros, o espaço universitário era um espaço de poder, seus diplomas abriam portas para a ascensão social, e, portanto, excluir as mulheres era uma regra.

Algumas universidades medievais existem até os nossos dias, sendo mais uma das criações medievais bem-sucedidas.  Muitos rituais existentes ainda hoje, como o trote, a defesa pública das teses de doutorado, também são herança medieval.

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