Este é o título de uma matéria da BBC, publicada para marcar a canonização de Irmã Dulce (1914-1992), a segunda pessoa nascida em nosso país a ser reconhecida como santa pelo Vaticano. Hoje, a Igreja Católica tem um processo exigente para que uma pessoa possa ser reconhecida como santa, ou santo, tornando-se digna de veneração entre os católicos. A ideia do processo, das provas de santidade (*os milagres*), foi criada na Idade Média, período que estamos estudando.
Nos primórdios do cristianismo, o santo, que quer dizer separado, veio de certa forma ocupar o herói grego-helenístico. Alguém que tinha praticado feitos que eram superiores a da média dos mortais e merecia ser lembrado por causa disso. Por isso mesmo, a maioria dos primeiros santos e santas era mártir, pessoas que tinham morrido por causa de sua fé. Um mártir não precisa ter milagres comprovados, isso, de certa forma, permanece até hoje. O que garantia a canonização nos primeiros séculos da Idade Média (Séc. V-XI) eram questões políticas, ou popularidade, bastava conseguir o reconhecimento de um bispo local e alguém era considerado santo. Muitos santos dessa época eram igualmente bispos, alguns reis, príncipes. No caso das mulheres, que eram minoria, normalmente eram as mães de santos homens.
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Morta na fogueira, acusada de bruxaria, condenada por vestir roupas masculinas, Joana D'Arc demorou muito tempo para ser canonizada. |
As coisas mudaram com o fortalecimento do poder do papa e a centralização em Roma de todo o processo de canonização, que deveria reunir provas e testemunhas. Não bastava somente ser popular, era preciso ter méritos comprovados segundo os padrões de religiosidade da época. A mudança foi uma forma de mostrar o poder do pontífice, mas, também, de disciplinar uma prática que poderia apresentar situações constrangedoras, como a veneração a um santo cachorro que enviados papais terminaram por descobrir quando foram investigar um lugar de culto na França.
A partir daqui, reproduzo o texto da BBC: "Em 1180, o papa Alexandre 3º (1100-1181), disse que não era permitido "venerar ninguém como santo, sem a expressa autorização da Igreja de Roma". "No primeiro milênio, não era tão rigoroso quanto hoje. A canonização tornou-se reservada ao papa apenas em 1234, com Gregório 9º [(1145-1241)]", conta à BBC News Brasil o frade Reginaldo Roberto Luiz, padre que trabalha com causas de canonização em Roma. "Antes bispos também canonizavam.""
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Santo Antônio de Pádua, ou de Lisboa (1195-1231), outro santo franciscano muito popular no Brasil, foi canonizado em tempo recorde, 1 ano. |
Esta mudança na forma de se fazer os processos, tornou a canonização mais difícil e rendeu aos historiadores material para estudar a religiosidade medieval e o que tornava alguém santo aos olhos de sua época. Há santos que são canonizados em tempo recorde, como Francisco de Assis, morreu em 1226 e foi canonizado em 1228, outros demoram séculos, caso de Joana D'Arc, morta em 1431 e só canonizada em 1920. De certa maneira, mesmo com o controle da Santa Sé, questões como popularidade, origem, e políticas ainda influem nos processos de canonização até nossos dias.
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